When cold toes are the sign.
My toes were freezing, something I hadn’t felt in a long time. Even in autumn and winter, it doesn’t usually get very cold where I live, so it’s always a pleasant surprise when I wake up and find a chill in the air visiting my home. It’s something that makes me happy.
That day, however, I had class. An important one, and I couldn’t even think about skipping it, though that was all I wanted to spend the day having fun with games, movies, and lots of playtime with my daughter. In my imagination, just in those few minutes of self-deception when I entertained the idea of staying home, it felt like I was on vacation. But reality came crashing back when my smartphone alarm went off again: vacation was still far away.
The week hadn’t been good, that was another thought that hit me while I was heading to the bathroom to take a shower before college. And I tried to avoid praying, deep down, for the day to be better. I tried to avoid it because I wanted to convince myself that things weren’t that bad. I mean, just because I lost an important client and didn’t pass a test for a job abroad—despite scoring 100% on all the evaluations—that wasn’t so terrible compared to what other people go through, right? So praying seemed like an overreaction. I didn’t want to bother God with something so small, even though I felt awful.
The bus was packed. That day, my husband had important matters to sort out with my dad and couldn’t drive me. Holding onto the handrail, I listened to Radiohead, just to give a soundtrack to that dark feeling growing in my chest. I wasn’t okay. I needed to unwind and feel less useless for losing a client who had been with me for four years. Even though it wasn’t my fault, even though he simply vanished, he’s constantly dealing with anxiety due to a gambling addiction, it was hard not to compare myself to Gregor Samsa in The Metamorphosis, who wakes up transformed into a monstrous insect, yet his biggest worry is that he can’t go to work. He spends almost the entire book beating himself up, wondering how he’s going to support his family now that he’s just a bug and can’t make money. I couldn’t avoid the comparison, nor the conclusion about what capitalism has done to both of us.
I got to college, and a storm was pouring down. But guess who doesn’t like umbrellas? Yes... me. So even though the sky was clearly overcast when I left home, I chose not to bring an umbrella and ended up getting drenched on the walk from the bus stop to the classroom. When I got there, my hair was dripping wet. My coat served as a towel to help a bit, but still, everyone noticed. As I sat down, I thought once more that I could be home playing Valorant in that cozy chill. But the thought didn’t last long, because the professor was talking so loudly, so incredibly loudly, that either my mind had to go blank, or I was going to have the worst headache ever from the combination of my internal voice and her booming explanations about the transformation of the concept of “text” over the centuries.
And then it happened...
The thing that would bring to the surface the stress I’d been quietly carrying for the past two days.
Alexandra is 22 and the mother of a two-and-a-half-year-old boy. When she has no one to leave him with, she brings him to class. That had only happened a few times, and that day was one of them. Of course, a two-and-a-half-year-old doesn’t sit still, so he was walking around the room, talking, playing, and occasionally bursting out with the funniest laughter. And although it was cute and didn’t bother anyone, there was a woman, a repeater in the subject, who was annoyed by the noise.
“Look, do me a favor and don’t bring your kid anymore! He disrupts the class, and it’s really hard to pay attention! Leave him with someone, he’s yelling all over the place, but don’t bring him again!”
She said that to Alexandra loudly and extremely rudely. Of course, I couldn’t stay quiet.
“Can’t you see she obviously has no one to leave him with? That’s why she brings him!” I said, raising my voice louder than hers.
“And what do you expect me to do if it’s bothering me?” the woman snapped back.
“You need to accept it! You need to have empathy! Or go complain to the coordinator or the dean. What you can’t do is tell her not to bring her child when she doesn’t have another option!” I replied.
“Oh, so Alexandra, you know what? Sit over there on that side, since apparently nobody over there is bothered. Sit there.” She turned to Alexandra.
After that, chaos erupted. Several people chimed in with their opinions. You couldn’t even tell who was saying what anymore because everyone was talking at the same time. And when the professor finally decided to speak, she only made things worse.
“Look, Alexandra, I don’t mind if you bring him… but only if he stays quiet. As long as you make him be quiet.”
Everyone was stunned.
I said, “He’s a two-and-a-half-year-old child. His brain is still developing. How do you expect him to stay quiet? Or do you want Alexandra to drop out of college?”
The argument started all over again.
My friend pulled me by the hand so we could leave the room because I was getting more and more upset. I stood by the door watching the discussion end, and the woman who had been bothered by the child stormed out, slamming the door. After that, we walked to the bus stop, talking about how the professor had completely failed to see Alexandra’s side. And while we were crossing the pedestrian lane, a guy driving one of those big pickup trucks almost didn’t stop to let us pass. A man stepped in front of us and started cursing him out with the worst insults imaginable, which finally made the driver stop. “What a day,” I thought.
When I got on the bus, I came to the conclusion that I really should have stayed home playing games and having fun. Sometimes, our intuition gives us signs we ignore. I got home with one certainty: I’d never again ignore my cold toes.
Portuguese
Meus dedos dos pés estavam gelados, como eu não sentia há muito tempo. Mesmo no outono e inverno, não é muito comum fazer frio na região onde moro, então é sempre uma surpresa agradável quando acordo e um ar frio está visitando minha casa, é algo que me deixa feliz.
Naquele dia, no entanto, eu tinha aula. Era uma aula importante, e eu não poderia nem pensar em faltar, mas era tudo o que eu queria: passar o dia tendo muita diversão com jogos, filmes e muitas brincadeiras com minha filha. Na minha imaginação, apenas naqueles poucos minutos em que eu me iludia com a possibilidade de ficar em casa, parecia que estava de férias, mas a realidade veio em seguida quando o alarme do smartphone tocou outra vez: minhas férias estavam longe.
A semana não tinha sido boa, foi outra lembrança que me pegou enquanto eu ia para o banheiro tomar um banho antes de ir pra faculdade. E eu tentava evitar rezar no meu mais profundo íntimo para que aquele dia fosse melhor. Tentava evitar porque queria me convencer de que as coisas não estavam tão ruins assim. Quer dizer, só porque perdi um cliente importante, e não passei num teste para um trabalho no exterior por motivos não explicados, já que passei com 100% de acerto em todas as provas aplicadas, isso não seria tão ruim comparado ao que outras pessoas passam certo? Então rezar, me pareceu um exagero, não quis ocupar Deus com uma reivindicação tão pequena, embora me sentisse horrível.
O ônibus estava lotado. Naquele dia meu esposo tinha umas coisas muito importantes pra resolver com meu pai, e não pôde me deixar. Enquanto segurava na barra de apoio ouvia Radiohead, só para dar um som para aquele sentimento escuro que crescia em meu peito. Eu não estava satisfeita. Precisava relaxar e me sentir menos inútil por ter perdido um cliente que estava comigo há 4 anos. Por mais que a culpa não fosse minha, por mais que ele tenha simplesmente desaparecido porque vive tendo crise de ansiedade por ser viciado em jogos de cassino, foi difícil não me comparar com Gregor Samsa em A Metamorfose, em que o personagem acorda e se vê transformado num inseto monstruoso, mas sua maior preocupação é a de que não conseguirá trabalhar. Ele se autoflagela quase o livro inteiro, se questionando em como ele vai conseguir ajudar sua família agora, que não passa de um inseto e não pode gerar renda. Não pude evitar a comparação e a conclusão do que o capitalismo fez com a cabeça de nós dois.
Cheguei à faculdade, e estava caindo uma chuva tempestuosa. Mas, adivinhem quem não gosta de guarda-chuva? Sim, eu mesma. Então, por mais que eu tenha saído de casa, o céu estivesse muito nublado, eu optei por não levar o guarda chuva e tomei o maior banho durante a caminhada entre o ponto de ônibus e a sala de aula, e quando cheguei lá, meu cabelo pingava de tão molhado. Meu casaco me serviu como uma toalha que amenizou a situação, mas ainda assim, todo mundo notou. Quando sentei, pensei mais uma vez que poderia tá jogando Valorant um friozinho gostoso. Mas foi um pensamento que não durou tanto tempo, porque a professora falava tão alto, mas tão alto, que ou minha mente silenciava, ou eu teria a pior dor de cabeça da minha vida por causa da minha voz interna, e do auto falante externo que insistia em explicar a transformação da noção de texto ao longo dos séculos.
Então aconteceu… Aquilo que traria a tona o estresse que nos últimos dois dias eu deixava escondido dentro de mim.
Alexandra tem 22 anos, e é mãe de um garotinho de 2 anos e meio. Quando ela não tem com quem deixar o filho, ela o leva para sala. É uma coisa que tinha acontecido poucas vezes, e naquele dia foi uma dessas. Obviamente, uma criança de 2 anos e meio, não fica muito quieta, então o garotinho ficava andando pela sala, falando, brincando, e às vezes dava uma gargalhada muito engraçada do nada. Acontece que, por mais que fosse fofo e não gerasse nenhum incômodo para as pessoas ali, havia uma mulher repetente na matéria que se incomodou com o barulho.
‘’Olha, faz o favor, e não trás mais seu filho! Ele atrapalha a aula e fica muito difícil de prestar atenção! Deixa ele com alguém, ele fica berrando pra lá e prá cá, mas não trás mais não!’’
Ela falou isso para Alexandra alto e de uma forma extremamente grosseira. É claro que eu não me segurei.
‘’Você não vê que ela obviamente não tem com quem deixar o filho, e por isso que ela traz para ela?’’ Questionei mais alto do que o tom de voz que ela estava falando.
‘’E você quer que eu faça o que? Se me atrapalha?’’ Perguntou à mulher.
‘’Você precisa aceitar! Você precisa ter empatia, ou vai reclamar com o coordenador ou reitor, o que você não pode e dizer pra ela não trazer a criança quando ela não tem outra opção!’’ rebati.
‘’Ah, então Alexandra, sabe o que você faz? Senta lá naquele lado já que não incomoda ninguém de lá, senta lá.’’ Ela virou pra Alexandra.
Depois disso, a confusão se instaurou, várias outras pessoas deram suas opiniões sobre a situação. Não dava pra entender mais nada quem tava falando o que, porque todos falavam ao mesmo tempo. Quando finalmente a professora decidiu falar, tornou tudo pior.
‘’Olha, Alexandra, eu não me importo de você trazer ele, mas desde que ele fique quietinho, desde que você faça ele ficar quieto’’ Disse a professora, o que deixou todo mundo incrédulo.
Eu respondi: ‘’Ele é uma criança de 2 anos e meio, o cérebro dele ainda tá se desenvolvendo, como que a senhora quer que ele fique quieto? Ou a senhora quer que Alexandra desista da faculdade?’’ A confusão se instaurou de novo.
Minha amiga me puxou pela mão para sairmos da sala, porque eu estava ficando cada vez mais irritada. Fiquei observando da porta da sala a discussão terminar, e a mulher que se irritou com a criança saiu batendo a porta. Depois disso, fomos para o ponto de ônibus conversando o quanto a professora tinha se posicionado errado não vendo o lado de Alexandra, e ao atravessarmos a faixa de pedestre, o motorista que dirigia uma picape daquelas grandes, quase não parava para a gente passar. Um rapaz entrou na nossa frente e começou a xingá-lo dos piores palavrões possíveis, fazendo com que ele parasse. ‘’Que dia’’ pensei. Quando peguei meu ônibus, cheguei a conclusão de que era melhor ter ficado em casa jogando e me divertindo mesmo. Às vezes nossa intuição dá sinais que ignoramos. Cheguei em casa tendo a certeza que nunca mais ignoraria os meus dedos dos pés gelados outra vez.
There are certainly a lot of people without empathy in this world!!! They live only for themselves. Good thing you took a stand and defended the child. Ah, yes you should have listened to your cold feet. Regards
Yeah, unfortunately, I had to deal with many recently.
Sending you an Ecency curation vote!

Thank you 🙏
Thank you 🙏